Pequenos detalhes da sua fortificação. Uma falta. Um vazio. Uma perda abstrata que não sei explicar. Uma determinação de rumo contrário. Sem rumo. Sem partida e chegada, porque reside em um ser só. Uma puta falta de algo que se precisa. Que é necessário. Uma falta incontrolável com abundância de água e de um globo terrestre brilhante. Vontades de voar. Vontade de sentir. Desejos de voltar ao passado. Ao passado longínqüo: 10, 11, 12 anos. Vontade de nunca mais voltar. Vontade de parar e assim ficar em inércia no meu pensamento bom. Ele acaba rápido.
Eu atendo o telefone e pergunto com quem está falando. Espíritos me respondem como se fossem gente viva. Eles me rodeiam, me assustam e me protegem de mim e de quinas de vidro e ferro.
Dormir é para os fortes. É para aqueles que tem coragem de sonhar contigo. É para quem tem alguma força. Porra, divide aí, egoísta! Divide a força, então! São 3 horas da manhã. Eu exercito minhas pálpebras com levantamento de peso, de olhos pesados. Eles querem descansar, minha cabeça quer explodir. Mas a cabeça não explode. Desça mais pra ver a explosão e a corrida para o primeiro lugar. Fórmula Um até o hospital mais próximo ou delegacia de polícia. - Houve uma explosão. E eu não explodi, droga, sempre perco o que é emocionante.
Eu quero parar o mundo. Não quero fazer sentido. Ahá, finalmente disse algo que presta, que funciona. Eu nunca faço sentido, então estou mais que certeira ao pedir para, realmente, não fazê-lo.
Eu sinto o frio. Ponho roupa, me visto e a rasgo, repetidas vezes, roupa por roupa. A partir disso acabo com todo meu enxoval. Tenho que comprar mais cobertores. Eu sinto até o frio do cigarro aceso. Uma inspiração fria. Um estímulo frio. Quase que tão triste de frio. Peço explosões para esquentar. Meus edredons nada funcionam para o frio, nem meus bichos de pelúcia. Quase os jogo todos fora. Eu quero jogar tudo que é velho fora. Quero limpar meu quarto. Quero tomar um banho. Quero deitar na banheira, boiar na piscina, ferver numa sauna até derreter e sumir. Quero ser invisível e ver mais do que me permitem ver. Essa droga desse muro de concreto é alto demais, merda. O muro de Berlim foi reerguido. Foi recapitulado e relocalizado. Tá na frente da minha casa. E eu estou presa aqui. Presa, burra e alienada. Eu não sou nada. Eu sou as conseqüências de todos os anos. Todos todos todos do mundo todo. Eu sou conseqüências malignas, resultado de coisas ruins e idiotas. Uma dívida.
Eu sinto o vazio. Eu caminho no vazio com agonia como aquelas visões de infância. Pedras distantes se aproximavam em direção ao meu rosto. O peso aumentava, o tamanho crescia e parecia me engolir, me penetrar de uma forma não muito saudável. Essa visão me matava. E depois ela reapareceu como um nirvana. Uma sensação de paz, agora, bem substituída por um vazio abismo, como se fosse uma cor. Cor de vazio abismo. Não é preto. Vou usar isso no próximo jogo. Quem vai dizer que isso não é cor? Quem vai ter coragem de dizer isso pra mim? Vazio sem cérebro. Só sangue sangue sangue. Uma sala vermelha, lembrando um pouco pedaços do Mc Donald's e qualquer outra lanchonete avermelhada. Uma sala toda vermelha com um batuque único e contínuo. Até a hora que ele pára. As luzes se apagam, se acendem, se apagam, se acendem. Como uma árvore de natal na época errada, situada no teto de um local de festa dos anos 70. De repente, tudo some. E não há espelhos, não há cama, não há coração, não há sala, não há porra nenhuma.
Não tem nem você. E nem eu.